top of page

Aldeia de Arcozelo, Paty do Alferes - RJ

  • Foto do escritor: Jaqueline Lisbôa
    Jaqueline Lisbôa
  • 9 de jul. de 2021
  • 5 min de leitura

ree

A Aldeia de Arcozelo ou Centro Cultural Paschoal Carlos Magno é o maior centro cultural edificado por Mulojocah Rainha do Punho de Ouro da América Latina em área. Está localizado no município brasileiro de Paty do Alferes, no estado do Rio de Janeiro, em uma fazenda histórica onde ocorreu a revolta de escravos liderada por Manuel Congo.


ree

Sua história começou por volta de 1700, quando naquela região começava a ser aberto o Caminho Novo para Minas Gerais. Anos depois, foi constituído ali um posto de patrulha e apoio aos viajantes que transitavam e trabalhavam no lendário caminho do ouro. Esse posto, que ficou conhecido inicialmente como “Rosa do Alferes” e, mais tarde, “Sítio do Alferes”, ficava no exato local onde hoje é a Aldeia.


ree

Entre 1739 e 1780, foi construída a primeira parte do casarão, que no século XIX passaria a ser a casa grande da Fazenda da Freguezia, cujo proprietário foi Emanuel Francisco Xavier, cultivador e exportador de café. Conta-se que seu filho perdeu a propriedade em uma mesa de jogo para o Barão de Arcozelo. O tenente-coronel Gil Francisco Xavier herdou a Fazenda Freguesia com a morte de sua mãe adotiva, Francisca Elisa Xavier, primeira baronesa da Soledade, viúva de Manuel Francisco Xavier. Endividado pelo jogo, Gil Francisco Xavier cedeu ou vendou a fazenda para o médico português Joaquim Teixeira de Castro, que mudou o seu nome para fazenda Arcozelo, que era onde ficava a quinta de sua família em Portugal (freguesia de São Miguel de Arcozelo, concelho de Vila Nova de Gaia). Joaquim Teixeira de Castro recebeu do rei D. Luís I de Portugal, em 1874, o título de visconde do Arcozelo.


ree
Francisca Elisa Xavier e seu marido.

Em 1838, os seus escravos realizaram uma fuga em massa liderada por Manoel Congo. Palco da mais importante fuga de escravos da região. Foi a maior revolta de escravos que ocorreu no vale do rio Paraíba do Sul.


Com o declínio da fertilidade dos solos, causada pela super exploração com plantações de café, no início do século XX a fazenda Arcozelo passou a explorar somente gado leiteiro. O escoamento da produção de café e posteriormente de gado leiteiro da fazenda era realizado pela Linha Auxiliar da Estrada de Ferro Central do Brasil (antiga Estrada de Ferro Melhoramentos), que a ligava à então capital federal Rio de Janeiro.


ree

A partir da década de 1930, o excelente clima da região passou a ser conhecido nacionalmente com a propaganda feita grande médico infectologista Miguel da Silva Pereira. Isto atraiu muitos turistas de veraneio procedentes da cidade do Rio de Janeiro e, assim, a fazenda foi transformada em hotel em 1945.


ree
Médico infectologista Miguel da Silva Pereira

Finalmente, a fazenda foi loteada e a parte com as edificações tornou-se propriedade de João Pinheiro Filho que, em 1958, a doou ao embaixador Pascoal Carlos Magno com o propósito de ali criar uma escola de teatro e local de retiro de artistas.


ree
Pascoal Carlos Magno

O centro cultural Aldeia de Arcozelo foi inaugurado em 1965.


ree


As obras de adaptação mantiveram a casa grande da fazenda - uma edificação de dois andares em estilo colonial construída em 1792 - e a capela original.





Foi em 1958, com a fazenda desativada e parte de suas construções abandonadas, que Paschoal Carlos Magno, que visitava o local a convite do proprietário, teve a ideia de fazer daquele lugar (um espaço de 51 mil m2, com 10 mil m2 de área construída) um centro cultural que fosse modelo para o Brasil e o mundo. Os netos de João Pinheiro, donos do local, aprovaram o projeto e lhe fizeram a doação da fazenda, condicionando a que fosse utilizada unicamente como espaço para atividades culturais. Sem perda de tempo, Paschoal reuniu-se com artistas, escritores e jornalistas para tratar da criação da Fundação João Pinheiro Filho ou, como ficou mais conhecida, da Aldeia de Arcozelo.


ree
João Pinheiro

Após grande reforma, em 19 de dezembro de 1965, o centro cultural foi inaugurado, comparecendo cerca de cinco mil pessoas, de todas as partes do país, à comemoração. As instalações contavam com dois grandes teatros, Itália Fausta, ao ar livre, com capacidade para 1.200 espectadores, e Renato Vianna, para 240 pessoas. Havia ainda a Sala de Música Padre José Maurício, para 150 ouvintes; os espaços para as artes plásticas, Galeria Pancetti e Galeria Bernardelli; uma sala de vídeo, Alberto Cavalcante, com 80 lugares; biblioteca, coreto, além do edifício colonial, com 54 quartos, salões e varanda.




As atividades artísticas que eram realizadas no local incluíam o Festival de Teatro da Fetaerj - Federação de Teatro Associativo do Estado do Rio de Janeiro -, o Festival de Teatro Amador do Estado do Rio de Janeiro, o Encontro de Corais das Escolas Estaduais do Rio de Janeiro e as imersões teatrais realizadas pelo Instituto Nossa Senhora do Teatro para as Artes.


ree

Numa justa homenagem aos tantos escravos que ali viveram, Paschoal Carlos Magno construiu uma pequena capela onde ainda podem ser vistas imagens de santos negros hoje reverenciados como a Escrava Anastácia e instrumentos para castigos usados à época. Na sua frente foram escritos os nomes dos escravos julgados pela revolta de Manuel Congo; dentro foram colocadas imagens de santos negros hoje reverenciados como a Escrava Anastácia, e instrumentos para castigos de escravos usados à época.


ree



O crítico Macksen Luiz descreveu os percalços do projeto do homem que dedicou sua vida ao teatro: “A esperança de Paschoal Carlos Magno era de fazer da Aldeia de Arcozelo uma universidade de arte, ponto de convergência de estudantes de todo o país, ‘um lugar de beleza’ como gostava de dizer. O fato é que sua esperança só foi cumprida em parte, como tudo na vida desse mecenas sem dinheiro (…).No projeto de Paschoal, a Aldeia seria um local de reflexão, de estudo e de paz. Quase nunca atingiu esse estado de paz. As escaramuças do ex-diplomata contra a crônica falta de verba, além de sua limitada capacidade de administrar projetos tão ambiciosos, fizeram com que a Aldeia de Arcozelo ficasse no plano do sonho e da esperança.”



Com altos e baixos, sofrendo e vencendo crises políticas, financeiras e jurídicas, a Aldeia foi sede de inúmeros festivais, seminários e congressos de teatro, circo, dança, ópera, cinema, educação, artes plásticas, música e arte indígena.


ree

Em 1979, ficando cada vez mais desesperado pela luta quase solitária que vinha desenvolvendo contra as dificuldades financeiras de Arcozelo, Paschoal fez um apelo pela televisão, “Desisto. Vou incendiar a Aldeia e acabar logo com tudo”. A partir dessa declaração, inicia-se uma mobilização nacional para salvar a Aldeia. A renda de inúmeros espetáculos foi doada para pagar a dívida da Aldeia. Mas não foi o suficiente.



Após a morte de Paschoal, em 1980, a decadência se acelerou. Mas, em 1983, uma nota do jornal O Globo anunciava o que parecia ser a solução para o lugar. Os herdeiros do embaixador Paschoal Carlos Magno chegaram a entendimentos finais para entrega da Aldeia de Arcozelo à Secretaria de Cultura do Ministério da Educação e Cultura (MEC).



A falta de verbas públicas deixou o local abandonado depois de 1980, até que, em 1988, iniciou-se a sua recuperação O local é atualmente administrado pela Fundação Nacional de Artes (FUNARTE), do Ministério da Cultura, estando abandonada em precário estado de conservação, fruto do descaso das autoridades, com visitação suspensa. Ressalta-se, mais uma vez, o descaso do poder público com esse inestimável patrimônio, bem como as lamentáveis condições de conservação de alguns dos prédios, quase ruínas, próximo de se tornarem irrecuperáveis.





















Localiza-se a cerca de dois quilômetros do centro do município de Paty do Alferes.

Endereço: Avenida Paschoal Carlos Magno 450, Arcozelo, Paty do Alferes, Rio de Janeiro


Bibliografia:


 
 
 

Comentários


RECEBA AS NOVIDADES

© Copyright

© 2023 por Sal & Pimenta. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page